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Itajubá Notícias: entrevista com a diretora pedagógica Fernandes
15 de novembro de 2017

 

 

Professora de muitos itajubenses (e de seus filhos, netos...), a educadora Fernandes tem em sala de aula muito mais do que um rico conhecimento. É detentora de uma didática austera, que a tornou referência em Educação na cidade, além de ser o norte para muitos que querem saber mais sobre a Língua Portuguesa. Nesta entrevista com o Itajubá Notícias, ela também fala sobre religião nas escolas, inclusão e gestão municipal.

 

Como itajubense, conte para nossos leitores sobre sua formação escolar e sua trajetória profissional na cidade. 
Estudei na Escola Estadual Major João Pereira. Sou da primeira turma de Magistério, o saudoso curso Normal, quando éramos muito bem preparadas para trabalhar com as crianças da Educação Infantil e do Fundamental I, o antigo primário. Formei-me em 1967, este ano estou completando 50 anos de magistério. 

E as primeiras experiências profissionais?
Quando nos formamos, éramos cerca de 70 alunas. Dessa turma, três foram escolhidas para trabalhar na própria escola (Major João Pereira) nas classes anexas, onde as alunas do magistério assistiam às aulas modelo. Comecei a lecionar no quarto ano primário (Fundamental I), depois passei a dar aulas no antigo curso ginasial (Fundamental II). Também lecionei no curso de Magistério e no Colegial, até me aposentar. Fiquei um tempo fora do Brasil e, no retorno, dei aulas, também, no Colégio Sagrado Coração de Jesus e no Colégio Anglo, de Itajubá e Pouso Alegre. 

Esteve também na direção da Escola Major João Pereira?
Sim, fui vice-diretora quando era diretor o professor Sérgio Roberto Costa. Eu dava aulas no período matutino e, à tarde, trabalhava na vice- direção. Era uma equipe excelente, tudo fluía muito bem. Foi uma experiência bastante rica que contribuiu  para minhas atividades de hoje, como diretora pedagógica do G9. Apesar da sala de aula ser mais atraente pela lida direta com os alunos, na direção, aprendemos muito porque acompanhamos o trabalho dos professores.

Conte sobre o início do Curso G9 e o que inspirou esse projeto na cidade? 
Em 1995, resolvemos montar o G9. Éramos um grupo de nove professores. Conversávamos muito sobre o ambiente escolar, sobre a educação e como poderíamos contribuir com a comunidade se montássemos uma escola. Naquela época, éramos jovens (eu era a com idade – risos), mas experientes e idealizávamos uma escola nova. E assim iniciamos, éramos dois professores de Matemática, um de Física, um de Química, um de Biologia, um de História, um de Educação Física e dois de Língua Portuguesa. 

Qual cenário do G9 hoje, 22 anos depois? Está entre as melhores da cidade? 
Acho que seria muita presunção falar em melhor escola, pois todas as escolas de nossa cidade são muito boas. Porém, cada uma tem a sua filosofia e a sua metodologia, é isso que as diferencia. O G9, por exemplo, tem a filosofia de ser uma escola que atenda, como necessidade primeira, a construção do conhecimento. Mas não somos uma escola conteudista, queremos um ambiente que prepare o cidadão para o futuro. Parece ‘lugar comum’ falar assim, mas não sabemos, por exemplo, que profissionais nossos alunos serão, tampouco quais as profissões aparecerão daqui a cinco anos. O mercado atual exige competências técnicas acrescidas das competências socioemocionais. Por isso, é importante que nossa escola prepare muito bem os alunos para as diferentes competências, como saber trabalhar em equipe e lidar bem com as relações interpessoais. Temos a responsabilidade de oferecer educação de qualidade, adequada às necessidades do século 21, por isso a importância do desenvolvimento de projetos, a oportunidade de debates, a autoavaliação constante, o saber se integrar no grupo. Para tanto, estamos sempre capacitando nossos professores e os funcionários. 

Como despertar nos professores que eles são um espelho para os alunos?
Procuro lembrar, sempre, que, no ambiente escolar, todas as atitudes devem ser educativas. Desde a maneira como tratamos uns aos outros, a discussão sobre direitos e deveres, até a forma como a escola se relaciona com as pessoas que nos visitam. Tudo é percebido pelas crianças, tudo é “espelho” para elas. 

É uma escola que adota projetos diferenciais, como robótica, música, revista feita com a participação dos alunos. Qual a importância dessa pedagogia?
É muito importante para que os alunos se descubram e para atender as diferentes inteligências. Àqueles que gostam de esporte, são oferecidas diferentes modalidades. Trabalhamos com a Lego Zoom a partir do Maternal I, dois aninhos. Quando os alunos chegam ao sexto ano, Ensino Fundamental II, eles iniciam as atividades de robótica, temos uma sala com computadores para a programação dos robôs. Temos também aulas de xadrez, muito importante para o desenvolvimento do pensamento lógico. Há aulas de dança, o Clube de Ciências, a Orquestra Experimental, o coral das crianças. Há, também, aulas de apoio aos alunos que participam das Olimpíadas de Matemática, de História e de Astronomia. Na OBA – Olimpíada Brasileira de Astronomia, deste ano, nossos alunos conquistaram três medalhas de ouro, cinco de prata e seis de bronze. 

A inclusão na escola? Como você enxerga e pratica o tema?
A escola tem que atender a todos, inclusive àqueles que apresentam determinadas deficiências ou síndromes que precisam ser tratadas de formas diferenciadas. Há muitos anos, em nossa escola, tínhamos a ‘Sala Projeto’, com cerca de sete alunos. Hoje, os alunos deficientes estão nas salas regulares, pois é um direito deles e um dever nosso, enquanto educadores. Para dar apoio aos professores, com a finalidade de atender bem a esses alunos, foi criado o SEI - Serviço de Educação Inclusiva. É um trabalho importante para todos, porque contribui para a formação do cidadão e ratifica a importância do respeito às diferenças.

A religião nas escolas voltou a ser discutido no país. O que pensa e como é no G9?
O G9 não oferece aulas de religião, pois não é uma escola confessional. Sobre essa questão, sempre digo que é necessária uma postura cristã, baseada no respeito ao próximo. Temos alunos de diferentes crenças, inclusive ateus, portanto abordar religião é muito delicado, mas nunca tivemos problemas. Entendo que o estudo da religião cabe à família e à Igreja, não é atribuição da escola, mas a posição confessional das famílias não deve interferir na escola. Sempre digo que o tripé Escola, Família e Igreja é fundamental para a formação de todos, desde que cada um desempenhe seu papel com responsabilidade e respeito. 

O Brasil está usando a nova ortografia. Era uma mudança necessária? Os brasileiros estão usando bem?
É uma mudança que não trouxe grandes impactos. O problema não é ortográfico, é político. Não é uma questão de querer padronizar a Língua Portuguesa nos países que falam português. Vejo que algumas mudanças, como o uso do hífen, continuam sendo um problema. Não houve benefícios que mereçam destaque. Há outras mudanças que poderiam ter acontecido e que facilitariam a escrita.

Quais os maiores erros cometidos pelos brasileiros na Língua Portuguesa?
Eu tenho observado muito a questão de regência e concordância. Exemplo: é muito comum ouvir ‘o filme que eu mais gostei foi o x’. O verbo gostar rege a preposição ‘de’. Toda vez que usar o verbo tenho que usar a preposição ‘de’. Então é o filme ‘de que eu mais gostei foi o x’. 

Você acha que a internet prejudica a escrita da atual geração? 
A Língua tem uma característica que é ser consuetudinária, o uso determina muitas vezes a forma, mas isso não justifica o desleixo ao se escrever nas redes sociais. Há o corretor automático, mas ele não corrige concordância e regência. Por isso acho que nós, professores, comunicadores, temos que tomar muito cuidado com a Língua quando falamos e escrevemos, seguindo o padrão culto. Entre amigos podemos usar o padrão coloquial, mas hoje o que se percebe é o padrão coloquial tomando conta da linguagem, principalmente na internet. Estão negligenciando as regras da Língua Portuguesa. 

Em tempos passados a escola pública tinha mais qualidade e respeito. A senhora pensa assim também?
Delicado falar sobre isso. Acho que a escola somos nós. Eu tive toda minha formação em uma escola pública excelente. Hoje, a escola pública mudou muito. Não só a escola, mas o atendimento público de saúde, de transporte, porque nós não temos a cultura de exigir qualidade desses serviços. Como não exigimos, a qualidade passa a não ser prioridade. Se exigíssemos mais das autoridades responsáveis, teríamos saúde pública de qualidade, escola pública de qualidade e tudo mais de qualidade. Mas não podemos generalizar, ainda temos muitas escolas públicas de muito boa qualidade. Por isso digo que o padrão da escola, seja pública ou particular, depende da exigência daqueles que usam o serviço dela e de seus gestores. 

A senhora tem noção do quão é respeitada na cidade, como mulher e dominadora da Língua Portuguesa?
Sobre a Língua, como professora, tenho que conhecê-la, mas não sou dominadora (risos). Agora, quanto à questão do respeito, sinto-me muito feliz! Talvez seja pelo fato de eu estar há 50 anos no Magistério e muitas pessoas terem sido alunos meus, depois seus filhos, seus netos … Então fico muito feliz com isso. É muito bom! Penso que esse respeito advém do cuidado que sempre tive com meu trabalho, com meus alunos, com o preparo das minhas aulas. Levei sempre muito a sério minha profissão e gosto muito dela. Isso é apenas a consequência! 

O que acha da nossa cidade? Ela se desenvolveu de forma regular?
Itajubá tem me surpreendido bastante. Ela tem melhorado e se desenvolvido muito, está mais limpa, mais organizada. Tem também oferecido muitas opções de lazer, agora com o teatro cheio de apresentações, o Parque Municipal, as praças bem cuidadas, os aparelhos de ginástica..., percebo que a cidade realmente mudou para melhor. 

Avalia como boa a atual gestão municipal?
Sim! Nós temos hoje a gestão de um jovem que tem enxergado as necessidades da comunidade. Tenho visto a atenção dada às escolas do município e, apesar de toda essa crise pela qual nosso país está passando, nossa cidade está conseguindo se sair muito bem. Isso é um trabalho de todos, do gestor público ao cidadão que nele vota. 

Itajubá ainda é excelência em Educação?
Sim. A palavra excelência é muito forte, mas acho que continuamos buscando-a. No nosso país, ainda temos carência de excelência em Educação, mas vejo que Itajubá tem buscado muito isso através das escolas de educação básica, da universidade, das faculdades, de um trabalho coletivo em busca dessa qualidade tão importante para o desenvolvimento do país. 

Como você avalia a educação a distância que cresce a cada dia no país?
Itajubá é uma cidade extremamente privilegiada para cursos presenciais. Então não acho que necessite tanto da educação à distância. Fico preocupada, por exemplo, com os cursos de Licenciatura nesse formato, pois para mim o professor se forma muito em um grupo, em uma turma presencial. Acredito ser difícil adquirir essa experiência dessa forma, por meios digitais. Vejo sim com bons olhos a EaD para regiões que não têm o privilégio que temos. Eu vejo com restrições a educação à distância para a formação do professor. 

Quais seus sonhos? Pessoais e profissionais?
Tenho como grande sonho profissional e pessoal ver um país com uma Educação de qualidade que atinja a todos da melhor forma possível.

Deixe sua mensagem para alunos, colaboradores do G9 e itajubenses.
É importante que sejamos éticos e que possamos exercer realmente a nossa responsabilidade cidadã de respeitar uns aos outros e, principalmente, de saber escolher sempre aqueles que vão nos representar. Não devemos pensar apenas nas nossas vontades, nos nossos quereres, mas nas necessidades da nossa cidade, do nosso Estado, do nosso país. 

 




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